Interesse Nacional

Fonte: http://democraciapolitica.blogspot.com/2013/05/psdb-petroleo-e-interesse-nacional.html
Para compreender o conceito de "interesse nacional", o que não se afigura tarefa fácil tendo em conta que "… estudiosos têm apontado que há grande dificuldade para se trabalhar com este conceito, identificado por vezes como amplo e ambíguo, uma vez que não há um consenso acerca da sua exata definição." (Contrera, 2015:178), importa regressar atrás no tempo a fim de tentar identificar a sua origem, nomeadamente àquela época em que não existia os Estados na configuração que conhecemos hoje, e aí este conceito era utilizado e substituído por outros como nos elucida Moraes (1986) "Lembremos que, antes de que o mesmo fosse adotado pelos Estados modernos, recorriam os soberanos, para justificar moralmente suas acções internacionais, às expressões da "honra nacional", "interesse dinástico" ou o "interesse do Príncipe"." (Moraes, 1986:152). Na configuração atual dos Estados como conhecemos o outrora "interesse do Príncipe" adotou uma nova nomenclatura, nomeadamente a de "interesse nacional" e que segundo Mandrou (1980) citado por Santos (2013) "O significado da evocação da "razão de estado", articulada com a noção de "interesse nacional" ou de "interesse público", está, assim, frequentemente relacionada com a "razão do príncipe"." (Santos, 2012:28).
 
Feito esta resenha introdutória de uma possível origem do conceito de "interesse nacional", importa neste momento ressalvar que foi nos anos 50 do século passado que se deu um importante marco histórico no que concerne ao conceito de "interesse nacional", nomeadamente por haver duas correntes teóricas distintas, a visão realista e a visão idealista "No início dos anos 1950, um grande debate se intensificou no meio acadêmico entre a visão realista de interesse nacional, cujo maior expoente é Hans J .Morgenthau, e a visão idealista, frequentemente associada ao ex-presidente americano Woodrow Wilson." (Contrera, 2015:180).
A primeira visão assenta nas premissas da "… filosofia de Thomas Hobbes, para quem os homens, quando no estado de natureza, ou seja, quando vivem sem uma autoridade superior capaz de determinar as regras mútuas de convivência e de implementar essas regras (isto é, de impor a ordem), vivem em uma situação de permanente conflito e de "anarquia"" (Lacerda, 2006:59), influenciados ainda pelas concepções de Tucídides e Maquiavel, "… os realistas consideram que os Estados, enquanto atores unitários e racionais, agiriam de maneira uniforme e homogénea no sistema internacional em prol do interesse nacional, sendo este decorrente, para eles, da conjunção de dois factores oriundos da natureza humana, a saber: o medo e o prestígio." (Contrera, 2015:180-181), enquanto os segundos os idealistas ou liberais segundo Nuechterlein (2001) citado por Contrera (2015) "… acreditam que a ética e a moral devem desempenhar um papel importante na definição do interesse nacional e rejeitam a afirmação realista de que a busca do poder deve ser o objectivo primário dos Estados nacionais." (Contrera, 2015:181),
Como foi possível apurar não existe grande consenso em torno do conceito de "interesse nacional" e que esta temática tem sido alvo de longos e diversificados debates ao longo dos anos, contudo importa ressaltar que "O interesse nacional pode então ser entendido como um conceito e um objetivo permanente e universal de todos os países sendo estático. Contudo, ele possui também um caráter específico e dinâmico, pois varia conforme cada país." (Sauter, 2017:51).


Bibliografia:
 

CONTRERA, Flávio. (2015). "O Conceito de Interesse Nacional: Debate Teórico e Metodológico nas Relações Internacionais.". In Revista de Estudos Internacionais (REI), ISSN 2236-4811, Vol. 6 (2). pp. 178-195. Disponível em URL: http://www.revistadeestudosinternacionais.com/uepb/index.php/rei/article/view/216/pdf

LACERDA, Gustavo. (2006). "Algumas teorias das relações internacionais: realismo, idealismo e grocianismo". In Revista Intersaberes. vol.1 n. 1, p. 56 – 77. Disponível em URL: https://www.uninter.com/intersaberes/index.php/revista/article/viewFile/87/61

MORAES, Lauro. (1986). "O Conceito de "Interesse Nacional" e a Responsabilidade de Diplomacia Brasileira". Universidade de São Paulo. pp. 151-161. Disponível em URL: https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/download/67074/69684
SANTOS, Victor Marques dos (2012). "Elementos de Análise de Política Externa", Lisboa. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

SAUTER, Betina (2017) "Política Externa e Interesse Nacional: a Parceria Estratégica nas Relações do Sistema Internacional.". In Revista de Análise Internacional, Curitiba, Vol.2, n.1, jun., p.49-64. Disponível em URL: http://www.humanas.ufpr.br/portal/nepri/files/2017/06/BetinaSauter.pdf

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