Partido de Massas

Fonte: https://quilombospartacus.wordpress.com/2017/05/19/partido-leninista-partido-conspirativo-e-partido-de-massas/
A passagem de um Estado liberal para um Estado liberal-democrático veio mutar completamente o paradigma dos sistemas partidários, favorecendo assim “a institucionalização das formações partidárias e a sua consagração como instrumentos de luta política ao serviço dos sectores inferiores da sociedade, até então privados de direitos sociais e políticos, ou seja, das massas populares.” (Stock et al., 2005:47). A par desta transformação, mutações de âmbito social também se deram, nomeadamente uma expansão do direito ao sufrágio, que ainda que não fosse universal, estendera-se grandemente, o nascimento de partidos socialistas e partidos católicos também contribuíram para este novo paradigma, assim como a aprovação de um sistema de representação proporcional, aspectos estes que contribuíram para que se advogue que se estaria a assistir ao “desenvolvimento do princípio da soberania popular” (Stock et al., 2005:47).  

Esta nova realidade “Com o advento da sociedade de massas e a democratização dos sistemas políticos deu-se uma profunda transformação das formas de organização partidária, em particular através da a) profissionalização da vida política; b) construção de uma estrutura formal, complexa e estável; e c) assunção de uma actividade de integração social.” (Stock et al., 2005:51), deu origem aos denominados partidos de massas “dotados de um programa político detalhado e sistemático, de uma forte identidade ideológica, de uma sólida e complexa estrutura organizativa e de uma vigorosa implantação na sociedade civil.” (Stock et al., 2005:47), ou seja, antes desta nova realidade, somente algumas pessoas, nomeadamente aquelas que possuíssem um certo estatuto social ou um poder económico de relevo poderia intervir e participar na vida política de um Estado, agora e face a esta mudança de paradigma, as massas possuem a capacidade de intervir na via política de um país, inclusive as classes mais baixas, não havendo a tal discriminação com base na classe social ou poder económico.  

Os partidos de massas foram objecto de estudo de alguns teóricos, sendo que Max Weber merece destaque em virtude de ter adiantado uma definição de partidos de massas, ou Maurice Duverger que aborda os partidos de massas ou de secção, e ainda os contributos de Neumann, através do conceito de Partidos de Integração Social.  

Max Weber vem dar relevo à participação de uma classe social que até então não tinha o poder de intervir na vida política do país, as massas “…um novo actor político, até então afastado e silenciado pelo sufrágio censitário e pelo parlamento burguês: as massas.” (Stock et al., 2005:52), e para este autor, este novo actor político nasce da profissionalização dos partidos em virtude dos membros, enquanto partes integrantes dos partidos, terem uma vida activa dentro do partido, o que faz com que os “partidos de massas desencadeiam um duplo fenómeno: por um lado, a democratização formal da vida partidária, por outro, a burocratização efectiva dos partidos, que tenderá a degenerar ou em «democracia plesbicitaria» ou em «governo dos funcionários»”. (Stock et al., 2005:52). Max Weber era apologista de que os partidos de massas, devido à sua estrutura política organizada tinha a capacidade de conquistar do poder.  

Na perspectiva de Duverger, a unidade organizativa de base dos partidos de massas eram as secções “as «secções» constituem «grupos de trabalho mais amplos e mais abertos, onde a educação política dos membros assume um lugar de grande relevância ao lado da actividade puramente eleitoral»". (Stock et al., 2005:55), o que convergia com as ideias subjacentes aos partidos de quadros, cuja organização se fazia através de comités “…pouco amplos, bastante independentes uns dos outros, geralmente descentralizados; não procuram multiplicar os seus membros nem enquadrar grandes massas populares, mas antes agrupar personalidades.” (Stock et al., 2005:41). Um outro aspecto que distingue os comités ou caucus das secções passa pelo recrutamento de membros para o partido, em que no primeiro, conforme já verificamos, o recrutamento era qualitativo, assentes nos pressupostos da “filiação elitista”, ou seja a cooptação, enquanto que nas secções, por estas serem uma estrutura burocrática e hierarquizada, este recrutamento era quantitativo,  Enquanto que nos comités “A sua actividade é orientada quase inteiramente para as eleições e combinações parlamentares, daí que conservem um carácter semi-sazonal” (Stock et al., 2005:41), nos partidos de massas ou de secções a sua actividade “…não se esgota na busca do voto e na intervenção parlamentar, realizando-se sobretudo ao nível da sociedade.” (Stock et al., 2005:55). Importa terminar salientando que era através dos comités que a classe burguesa se expressava politicamente, enquanto que as secções são as organizações de expressão política das massas.

Bibliografia:


STOCK, Maria José (coord.); TEIXEIRA, Conceição Pequito; REVEZ, António Manuel (2005), Velhos e Novos Actores Políticos. Partidos e Movimentos Sociais, Lisboa: Universidade Aberta.

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